quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Entrevista Com Marcelo Freixo Sobre Violência e Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro


Reproduzo aqui uma entrevista com o Deputado Estadual do PSOL Marcelo Freixo, defensor dos Direitos Humanos e que inspirou o Deputado Fraga do Filme Topa de Elite 2, na entrevista Freixo aborda o problema da violência e segurança pública no RJ.

Qual é o seu olhar sobre as UPPs - Unidades de Polícia Pacificadora criadas no governo Sérgio Cabral?

A UPP não é um projeto de segurança pública e sim um projeto de cidade. O governador Sérgio Cabral foi eleito no primeiro turno única e exclusivamente em função das UPPs. Se a população avaliasse o seu desempenho na saúde e educação, provavelmente o conduziria ao cárcere e não ao Palácio Laranjeiras. Porém, os formadores de opinião continuam tendo na segurança pública o único instrumento de avaliação política sobre o Rio.O mapa das UPPs é revelador da razão do projeto, o critério não foi as áreas de maior violência, caso fosse os complexos do Alemão e da Maré seriam os primeiros a ser atendidos. A lógica foi outra, as UPPs chegaram ao corredor hoteleiro da Zona Sul (área nobre), na Região do Porto, que receberá grande investimento privado nos próximo anos (projeto chamado pela prefeitura do Rio de Porto Maravilha), no entorno do Maracanã, em função dos Jogos Olímpicos, e na Cidade de Deus, área de grande investimento da especulação imobiliária e único território, em toda a Jacarepaguá,
que não está nas mãos de milícias. Claro que defendo o princípio do policiamento comunitário, a aproximação da polícia com a comunidade que será protegida. É importante para o morador dessas áreas o fim do tiroteio e da barbárie do tráfico. A favela não pode continuar sendo tratada como caso sempre de polícia. O que verificamos é a construção de uma gestão policial da miséria, tudo na comunidade
é decidido pela polícia, o direito a saúde, educação e cultura continuam distante da favela. A pergunta que fica é: o que é uma sociedade civil, a que garante direitos ou a que se enche de polícia?

O filme Tropa de Elite 2 fala do “sistema”, qual é a sua opinião sobre esse termo?

O filme deixa claro que o debate da segurança pública não se restringe à ação policial, pelo contrário, esse é o grande tema da política nas grandes cidades brasileiras. Os formadores de opinião não têm mais na saúde e educação públicas os grandes temas da política. A classe média colocou seus filhos no colégio particular e entrou para um plano de saúde, sendo assim esses temas deixaram de ser determinantes no debate político. Com a segurança pública não é possível fazer o mesmo. O filme mostra que as políticas de segurança são decisivas, como instrumentos
de controle sobre a massa pobre das favelas e periferias dos grandes centros. Manter a ordem social é manter a ordem de classe. Não ter política pública de assistência nessas áreas é a política pública do Estado, não se trata portanto, de um Estado ausente, mas da ausência de uma política de direitos, substituída por uma política de controle, violenta e corrupta . A corrupção não é um desvio, mas algo estrutural nas relações de poder. A máquina pública serve a interesses corruptos, perdemos
o mínimo sentido republicano. Sendo assim, esse não é um problema que vamos resolver somente com uma mudança na polícia, e sim no sistema.

Tropa de Elite 2 representa um marco no cinema brasileiro. Além do grande apelo da crítica, quase 10 milhões de pessoas já assistiram ao filme. Qual o impacto disso na sociedade brasileira?

Já podemos sentir esse impacto, o tema das milícias infelizmente não pautou o debate eleitoral. Entretanto, o principal debate que se faz hoje no Rio é o das milícias,
isso se dá em função exclusivamente do filme. (...). É necessário criar outro olhar sobre as políticas públicas de segurança, elas precisam ser instrumentos de garantias
de direitos e não da promoção da barbárie ou da guerra, onde o Estado disputa com o crime quem é mais violento. O Tropa 2 coloca o debate da segurança publica no
“andar de cima”, sai da polícia para a política. Em qualquer lugar do mundo o crime organizado se dá onde tem dinheiro e poder, sendo assim ele não se organiza nas favelas e periferias. O filme desnuda a relação entre crime, polícia e política no Rio de Janeiro dos últimos anos.

Marcelo Freixo
Deputado Estadual PSOL RJ

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